Aqui está um pequeno conto que é uma homenagem gratuita e claro não intencionada para publicação em livro.
Homenagem a ao escritor Harry Turtledove e a D. António Ferreira Gomes (bispo do Porto)
A carta imaginária que se segue integra-se no universo das séries “World War” e “Colonisation” de Harry Turtledove. Trata-se de uma história alternativa em que alienígenas répteis invadem a Terra em 1942 em plena II Guerra Mundial. Aliados e Eixo unem-se contra o inimigo comum. A guerra acaba com um empate em que metade do globo fica ocupado pelos alienígenas (sobretudo hemisfério sul mas também certas zonas da Europa como a Polónia e a Península Ibérica) e governado a partir do Cairo e o resto sob o controle de 4 superpotências humanas que emergem com a guerra (e seus satélites/aliados): EUA, Alemanha Nazi, URSS e Japão. Segue-se uma guerra-fria entre humanos e alienígenas vulgarmente conhecidos como “Lagartos” (mas formalmente auto-designados “A Raça”) mas também de certa forma entre as superpotências humanas. Nos anos 60 devido ao contacto com os alienígenas nos anos 40 a tecnologia é muito mais desenvolvida sendo praticamente igual à de hoje no nosso mundo. Também nos anos 60 este equilíbrio é rompido com a chegada da Frota Colonizadora (civil) e tudo muda. Nessa altura os “Lagartos” na tentativa de integrarem verdadeiramente os territórios ocupados na cultura do seu Império (de vários planetas) tentam converter os humanos dos territórios ocupados (como Portugal) à sua religião (Culto Imperial) e para tal colocam impostos pela prática de outras religiões o que enfrenta forte oposição católica. A carta de que se segue integra-se neste contexto.
Nota: D. António Ferreira Gomes foi um corajoso bispo do Porto que no Mundo Real se atreveu a escrever uma “carta aberta” contra Salazar o que levou ao seu exílio.
“Carta Aberta ao Senhor Atvar, Excelentíssimo Comandante da Frota Conquistadora“:
Porto, 4 de Maio de 1965
Excelência, estou num choque tal que me é difícil exprimir a minha revolta e indignação!
Contudo a bem dos católicos e portugueses em geral penso que é meu dever apelar ao seu bom senso e sensibilidade.
Podemos já não ser um país soberano (ou como os senhores diriam "não-império") , mas continuamos a ser um povo e por este motivo penso que merecemos ao menos um mínimo de respeito por nós e pelas nossas tradições e crenças mais profundas. Já que não nos concede a Cidadania Imperial que apregoam que nos daria , entre outras coisas, liberdade de expressão, peço que pelo menos nos deixe em paz com as nossas vidas e sermos nós próprios.
Por favor , não me considere ingrato. Sei que o Senhor e A Raça fizeram muito por nós , desde o desenvolvimento tecnológico, aos transportes (linhas de alta velocidade que facilitaram a mobilidade e novas estradas) comunicações (mais fáceis via satélite computadores e telefones móveis), à medicina, educação e nível de vida em geral. Posso dizer com segurança que vivemos sem dúvida muito melhor hoje que talvez em todo o decorrer dos últimos 100 anos e sobretudo mais recentemente do que no tempo daquele tirano do Salazar do qual nos libertou.
Sendo realista também considero que (embora possa chocar alguns dos meus compatriotas ao dizer isto) dada a actual situação mundial um Portugal independente talvez não sobrevivesse nem 10 minutos e que certamente a nossa vida seria muitíssimo pior sob o domínio do Reich ou da URSS. (não falo nos casos dos EUA ou Japão pois estão demasiado distantes não representando perigo para nós, pelo menos imediato).
Contudo Senhor, apesar da nossa gratidão por tudo o que foi feito lembro-lhe uma coisa, isso não faz de nós escravos coisa que não somos nem nunca seremos! E não fomos nós que lhe pedimos para que nos invadisse! A nossa gratidão não nos obriga a ajoelhar diante de si ou de qualquer dos seus ídolos. Apenas nos ajoelhamos perante Deus e não perante qualquer mortal, humano ou d`A Raça! Não tem o direito de nos impor tal coisa!
Lembro-lhe também Senhor que não se esqueça de tudo o que nós católicos fizemos para evitar o pânico geral da população aquando da invasão e ocupação. E do nosso importante contributo para o desenvolvimento português em colaboração convosco (sobretudo em obras sociais). Não lhe pedimos mais nada em troca, até porque já nos deu bastante, pedimos apenas um pouco de respeito! Colocar guardas às portas de todas as Igrejas, incluindo o próprio santuário de Fátima exigindo dinheiro aos crentes para que possam entrar!? E mais: fazendo simultaneamente propaganda para o vosso Culto Imperial que sob discriminação positiva não implicaria pagamento! Tudo isso para nós Senhor é um ultraje e uma injustiça! Não se esqueça também Excelentíssimo Comandante que nós católicos portugueses além da nossa colaboração durante todos estes anos fomos dos primeiros a condenar o ataque bárbaro à vossa Frota Colonizadora aquando da sua chegada à Terra! Sentimo-nos portanto muito chocados e injustiçados com esta atitude sua de nos tentar converter quase à força! Sim pois acredito que muitos portugueses pobres abandonem o catolicismo por causa disto. Por outro lado os ricos (muitos deles até fascistas simpatizantes com o antigo regime) são beneficiados e até aproveitam a ocasião para exibir ostensivamente o seu dinheiro à porta das nossas Igrejas! Senhor, não vê como tudo isto nos magoa!? Além disso houve já, como sabe muitos conflitos sangrentos por causa disto com morte tanto de humanos como membros d` A Raça! E nem assim muda de atitude!? Sinceramente não compreendo tanta teimosia e tirania! Nesta sua perseguição injusta ao catolicismo está a agir nada mais nada menos com a mesma violência do Reich e com a mesma tirania e repressão que a União Soviética! Isto poderá levar muitos de nós a perguntar: será de facto tão melhor do que eles quanto apregoou durante estes 20 anos!?
Porque não toma o Senhor Comandante medidas persecutórias contra aqueles que de facto sempre se lhe oporam supostamente em nome de Portugal mas na realidade no interesse de potências estrangeiras !? Porque permite a continuidade desta situação mesmo após o aumento galopante que atentados terroristas fascistas e comunistas em que tantos do meu povo e do seu já morreram!? Muitos deles civis!?
Parece-me Senhor, com todo o respeito, que está a perder o seu sentido politico. Sei que A Raça está a atravessar momentos difíceis na sequencia da chegada da Frota Colonizadora como as revoltas muçulmanas no médio oriente e restante mundo árabe impulsionadas por Khomeini e outros fanáticos, o caos que reina na China e Índia!
O facto de Mao-Tsé Tung estar a ganhar muito apoio mundial, provavelmente mais do que Molotov, o líder soviético, a crise com o Reich por causa da colonização da Polónia pel`A Raça! A dependência galopante em gengibre que está a dar cabo dos seus padrões reprodutivos e ameaça a estrutura da sua própria sociedade, etc.
Porque não dedicar energia a resolver estes seus problemas reais? Porque perde tempo a atormentar a vida de quem sempre o apoiou? Porque querer arranjar problemas também nos seus territórios católicos que nunca lhe deram problema algum!?
Porquê nos recompensar pelos nossos anos de trabalhos juntos negando a Cidadania Imperial a troco de renegarmos a nós mesmo e , desculpe dize-lo, querer que vos adoremos a vós, tão mortais como nós , como deuses!? Não acha Excelentíssimo Senhor Comandante que está a ser injusto e demasiado teimoso!?
Uma coisa lhe digo Senhor Atvar, ou recua nesta política ou não sei que consequências ainda virão a caminho e vejo muito sangue que possa vir a ser derramado tanto nosso como vosso! E nem isto o demove!?
Senhor Atvar Excelentíssimo Comandante da Frota Conquistadora, tenha vergonha na cara!
D. António Ferreira Gomes, bispo do Porto
Epílogo: pouco após a publicação desta carta que colocou Portugal em alvoroço, Atvar ordena o exílio do seu autor para o mesmo local da América Latina onde ironicamente Salazar e Khomeini também se encontravam exilados.
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